abril 05, 2008

Universo em torno do Rio Araguaia será tema de projeto


Berohokã é o projeto que revelará o universo sócio-cultural, político e ambiental deste que é um dos mais importantes rios do Brasil e o 33º no ranking dos maiores do mundo. Para isso, um documentário, um cd com músicas da região, um livro de fotografias e um site com informações completas sobre o projeto serão lançados.






Fatos sócio-culturais e políticos, dados econômicos e histórias que cercam o universo do rio Araguaia darão o tom ao projeto Berohokã, que através de um documentário, um CD, um livro de fotografias e um site, revelará o amplo e rico universo que margeia este que é um dos mais importantes rios do mapa hidrográfico brasileiro e o 33º no ranking dos maiores do mundo.

Berohokã, na língua karajá, quer dizer "grande rio". O nome, bem como o projeto, foram concebidos pelo assessor parlamentar Luiz Jacarandá, goiano, natural de Baliza, cidade situada em frente ao município de Torixoréu, em Mato Grosso, que cresceu ao som das músicas tocadas por violeiros da região e das histórias míticas sobre o grande rio.


Jacarandá conta que todo o universo que cercou sua infância e despertou a paixão que sente pela região, aliado à ausência de relatos sobre o contexto em torno do rio Araguaia, foram as forças motrizes que o fizeram dar início ao projeto, concebido primeiramente sob o pretexto de se realizar um documentário que abrangesse o tema. "Até hoje não existe nenhum trabalho completo sobre o Araguaia, só registros pontuais de documentaristas brasileiros, como a Paula Saldanha, que registrou a beira do Xingu, numa época específica, que era a época de praia", conta. "O que queremos é ampliar o foco do debate, mostrando a região de uma ponta a outra, desde sua nascente à sua foz, revelando a geografia desse trajeto e os múltiplos aspectos sócio-culturais e políticos que envolvem os povos radicados ali", completa.

Em dezembro de 2007, tiveram início as manobras para viabilizar o projeto. Para sua execução, um núcleo de produção foi montado, tendo como um dos grandes aliados o diretor de audiovisual, Marcelo Bizz, que o ajudou a formatar as primeiras propostas operacionais e a montar a equipe, hoje formada por pesquisadores, roteiristas, produtores, fotógrafos e comunicadores.

"Foi nas discussões com essa equipe de produção que nasceu a idéia do CD, do livro e do site, pois havia muitos fatos importantes em torno que Araguaia que num único documentário não conseguiríamos abrange-los. Então a opção pela variedade dos produtos tem justamente esse intuito, que é o revelar as diferentes facetas que margeiam o Berohokã".


Os produtos têm previsão de lançamento para dezembro deste ano, depois de um amplo levantamento de dados e de imagens sobre a região, que acontecerão de abril a julho, em períodos sazonais diferentes.

Além do registro audiovisual, que será acessível via documentário e livro de co-autoria do fotógrafo amapaense Renato Reis (que trará fotos e registros fotojornalístico das paisagens, em seus múltiplos aspectos), uma compilação com músicas regionais ligadas ao universo musical do Araguaia e interpretadas por grandes expoentes da cultura regional serão lançadas em um CD, que reunirá nomes conhecidos como o do músico Pescuma e outros cancioneiros locais.

O documentário, o registro fotográfico, bem como um amplo banco de dados sobre a região do Araguaia poderão ser acessados pelo site, que se encontra em fase de construção, e será inaugurado meses antes. "Será através dessa home page que o público poderá acompanhar o desenvolvimento do projeto, através das notícias e das fotos que forem sendo feitas no período de produção", comenta Luiz.

A primeira etapa de registros terá início no dia 01 de abril, quando a equipe viajará pela primeira vez para registrar o período de cheia do rio. "Depois dessa primeira bateria de gravações, acontecerão outras duas, uma em junho, época de seca, e outra para apurar imagens que faltarem. Em agosto começamos a etapa de finalização do trabalho para dezembro termos todos os materiais prontos para lançamento", conta Bárbara Varela, coordenadora de produção.


Além da documentação, o Projeto Berohokã conta com uma experiência de produção inédita no setor do audiovisual em MT. Será capitaneado por um pool de produtores e coletivos, entre eles, o Instituto Cultural Espaço Cubo, que compõe a equipe de roteiro e assessoria de Comunicação, o Movimento Panamby, que assina a pesquisa, e ainda a Produtora Zeiss, que capitaneia a produção geral e a direção do documentário.


Sobre o Araguaia - Em Mato Grosso, um dos quatro estados por onde o rio cruza - outros três são Goiás, Tocantins e Pará - há quem reconheça a Região do Araguaia como espaço rico em cultura e exuberância natural, onde o pôr do sol torna a paisagem como uma das mais atrativas e com maior potencial turístico, e a produção cultural marca o cotidiano de um povo que vive dividido em habitat naturais e novos paradigmas trazidos pelas transformações urbanas.

Há quem considere ainda como mais importante ponto de destaque o seu potencial econômico: só em Mato Grosso, 331 mil habitantes se espalham por seus mais de 30 municípios (dados do IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), sendo que 250 mil famílias de pequenos produtores ali situados dividem espaços com as principais empresas exportadoras do agronegócio, que vem instalando armazéns com capacidade total de 250 mil toneladas. Isso sem contar o fato da deter o status de maior crescimento de área plantada no Brasil, nos últimos dois anos, segundo informações publicadas na "Agência de Notícias" de Sinop (MT).


No aspecto político a região ainda reserva muitas histórias. Num passado recente foi palco de resistência por parte de militantes políticos de esquerda que elegeram ali o terreno propício para a organização da luta armada que reagisse à hegemonia da ditadura então já estabelecida no Brasil. Daí seu símbolo de resistência e organização popular, hoje associada ao "padre da guerrilha" Dom Pedro Casaldáglia, personagem importante da região, conhecido pelo histórico de defesa dos índios e pequenos agricultores da região, contra governos, pistoleiros e até setores conservadores da igreja católica.

Há ainda o exemplo de projetos de urbanização como a construção da Residência Presidencial no meio da Ilha do Bananal (Tocantins) pelo presidente Juscelino Kubitscheck, a fim de fazer reuniões e receber personalidades ilustres, além de fortalecer o Turismo na região e o desenvolvimento econômico. Porém, o Hotel foi queimado hipoteticamente pelos índios karajás, vizinhos da região. Perceber ainda o impacto da cheia na Ilha do Bananal, segundo relatos, é crer que as terras, na seca valorizadas, tornam-se completamente desvalorizadas, considerando que o Rio cobre toda a região.


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