maio 07, 2008

Luiz Jacarandá fala sobre o início do projeto Berohorã

Confira abaixo o que o idealizador e produtor executivo Luiz Jacarandá fala sobre o prjeto Berohokã.


Cubo Comunicação: Sobre o rio, porquê de registra-lo? Você dizia que não existe um trabalho desse a nível nacional.

Luiz Jacarandá: Primeiro eu sou proponente do projeto. Nasci na margem direita do Rio Araguaia, numa cidadezinha chamada Balila, Goiás, de frente para Torixuaréu, no Mato Grosso. Havia uma paixão pelo Araguaia, não só minha, mas de toda família e amigos, de grupos de trabalho, etc. Descobrimos que não existe nenhum trabalho especial sobre o Araguaia. Há trabalho pontual de alguns documentaristas brasileiros, como a Paula Saldanha, na beira do Xingú, na época de praia em um determinado local. Ninguém retratou o Rio Araguaia de ponta a ponta, das nascentes, que são várias, até sua foz, no Tocantins, onde se junta lá no Pará pra cair depois na represa de Tucuruí. ntão tomamos uma decisão: formamos um grupo de trabalho, fomos até a Secretaria de Cultura, conseguimos um aporte inicial do projeto para posteriormente fazemos a captação do projeto, bem formatado. Juntamos um grupo de trabalho: roteiristas, pesquisadores, técnicos, que tem conhecimento de formatação de projeto, diretores que além da vontade, tem também certa experiência em retratar natureza; fotógrafo que tem especialidade em natureza (se você buscar um banco de dados, um banco de fotos, você consegue muita fotografia, mas coisas muito simples sem resolução e sem nada), então resolvemos criar o projeto. Berohokã é o nome do Rio na língua Carajá, significa Grande Rio. De início foi formatado como “Arte e Magia nos meandros do Araguaia”, mas vai ser passado como o Grande Rio. Nós pretendemos fazer um em âmbito nacional, o projeto nosso é pro Brasil, sabe-se lá pra fora (do Brasil). Portanto vamos faze-lo em português, inglês e espanhol. O projeto consiste em um livro Arte, que vai levar todas essas fotos das viajem pelo rio na cheia, o rio na seca e vai onde vai estar (no livro) uma divisão em culinária, povos indígenas, peixe e uma série de outras divisões. Esse livro-arte vai ter capa dura, um produto muito bonito, e um lado dele, a primeira contra-capa, vai haver um Cd com o documentário do rio. Da nascente à foz. Mostraremos o Araguaia duma forma que todo mundo conhece, que é romântica, bonita, mas vamos mostrar (também) os problemas, principalmente as nascentes que estão devastadas. Se você olhar uma foto que eu acabei de ver, verá uma erosão enorme e soja do lado, um negócio louco, se brincar o trator cai lá dentro.


Cubo Comunicação: Então uma das metas seria fazer uma denúncia sobre os fatos que afligem o Araguaia?

Luiz Jacarandá: Em Goiás e Mato Grosso, os órgãos fazem esse tipo de trabalho. Nós não vamos fazer denúncia, vamos mostrar a realidade do rio, onde ainda tem mata ciliar, onde se preservou; onde ainda tem peixes e onde não tem mais, onde há povos indígenas e quem é esse povo indígena que está na beira do rio. A história desses povos, o folclore que envolve a margem do rio, que é algo fabuloso e esses personagens que estão na beira do rio. Você pode, de repente, achar um canoeiro que tem cinqüenta anos remando e que somente a história dá um livro. Essa cidade tem pessoas lá dentro que a fizeram, construíram e participaram daquele progresso, foram pioneiros e devem ter muitas informações. Então não existe em lugar nenhum... Existe apenas fragmentado no Brasil um trabalho de pesquisa sobre o rio. Quem passou pelo rio. Mas uma meta principal é mostrar a beleza dele nas praias de julho, quando, por exemplo, os festivais de praia o transformam, é uma beleza incomensurável. Nós vamos mostrar os dois lados do jogo.



Cubo Comunicação: Como que é esse de estar lançando o produto híbrido?

Luiz Jacarandá: Tudo nasceu na realidade baseado primeiro no CD, e depois descobrimos que tínhamos que fazer um produto completo. O CD são músicas com cantores que cantam só o Araguaia, músicas exclusivamente só sobre o tema. Tem cantores de Mato Grosso, Goiás e todos eles têm belas músicas do Araguaia. Têm músicas antigas, músicas novas, que vão ser lançadas no próprio CD. Estamos tentando trazer alguma obra do Pará que também seja importante. O livro, o CD e o documentário têm um sentimento só, é um produto só na realidade, por isso que eles são juntos, atrelados. Mas cada um vai ter uma historia posterior.



Cubo Comunicação: É que na verdade vai ter vários formatos de inserção

Luiz Jacarandá: Isso. Já está no projeto alguns shows incluindo esses cantores todos, que pode virar um DVD, de repente. O próprio grupo que fez o documentário pode estar gerando esse DVD, então são produtos que vão aparecer. A partir de agora Berohokã é uma marca que vai mostrar pro Brasil o que não é conhecido sobre o Rio Araguaia. Principalmente algumas discussões fortes como o tamanho do Rio Araguaia, é um assunto que vamos colocar em pauta. Não queremos só criar polêmica, nós vamos lançar isso, por que é muita coisa. E provavelmente nossos roteiristas já descobriram isso, posteriormente o Berohoká continua através de outros documentários... vai ser fragmentado. Há histórias bonitas que devem ser contado paralelo a isso. Então, esse é o primeiro, o Grande Rio, grave isso: Berohokã, o Grande Rio. Língua Carajá.



Cubo Comunicação: Como vocês visualizam na constituição do projeto de ter parceiros envolvidos no setor da cultura, como no caso, o próprio Espaço Cubo fazendo assessoria, Circuito Fora do Eixo... Como você acha que esse campo da cultura vem tendo essa relação com esses projetos, com a iniciativa privada... ?

Luiz Jacarandá: Achamos o seguinte: ninguém vive sozinho. Quando imaginamos o projeto ele tinha um tamanho. Porém, descobrimos que ele é muito maior do que nós. Se nós não agregarmos quem tem interesse de defender o rio, de mostrá-lo, nós não vamos chegar a lugar nenhum. Então precisamos do poder público pra dar a primeira alavancada no projeto. A chancela do poder público vai nos ajudar a fazer captação. Nós temos que buscar pesquisadores interessados por que tem muita gente que faz trabalho em nível de universidades pelo Brasil, que está precisando de uma vitrine dessas, pra mostrar esse produto. E nós podemos estar usando esse produto pra chamar esse profissional. Então se nós não buscarmos pessoas de todas as matizes, que pensam de maneira diferente, mas que possam nos ajudar a falar a verdade do Araguaia. Pensamos assim: a região do Araguaia é a mais bonita, mas é a mais pobre. Isso é uma coisa do poder público, mas fora do poder público nós temos que fazer alguma coisa. Talvez a gente falando do rio e depois começando a falar de alguns outros temas paralelos, colocando isso pra fora, a gente começa a fazer as pessoas descobrirem que existe uma região que precisa ser olhada e analisada. Esse rio insiste em sobreviver, recebendo outras águas e da metade em diante ele vai ficar belo pro peixe, pra pescaria, pra tudo. Ai ele vai pra uma região pobre, que é o Araguaia e do outro lado do Tocantins, extremamente pobre. Ele nasce na riqueza onde ninguém está protegendo-o. Existem trabalhos, tentativas, mas nada que seja efetivo mesmo pra resolver a questão das nascentes do Araguaia. Ele vai embora pra ficar bonito numa região pobre. É algo a ser estudado isso, é a mão de Deus. Eu brinco que as pessoas falam em praia, porém, em trinta minutos de vôo em determinado momento do Araguaia, você consegue visualizar mil praias inóspitas, pois o rio todo ano constrói a praia num lugar. Depende da correnteza, da última enchente. Não existe isso no Brasil. Esse projeto Berohokã vai se transformar em algo importante pro Brasil estudar, com certeza.


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